Olimpíada de Escrita Criativa

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Fred foi nosso aluno até 2020 e nos ensinou como um “simples poeta” navega em mares ainda mais profundos – os da palavra. Além de um português emprestado, nos presenteou com boas conversas, com olhares atentos e com a brevidade de um poema, que – ainda que seja um segundo – é “um grito onde cabe eu, você, o mundo”.

Luíza Maragno
Professora de Língua Portuguesa JPSul

Amorfati e uma metáfora para o tempo.

Em tempos de mudança, perspectivas mudam também. Nesses tempos incertos, incertezas se tornam o cotidiano, principalmente para aqueles que estão no fim de alguma fase. Ou em qualquer altura da vida, afinal viver é mudar constantemente. Irônico é a mudança ser a única certeza que o tempo nos garante. Em tempos de qualquer tempo, viver é esperar que amanhã o sol nasça e nada mais seja o mesmo. Viver é navegar, como se fosse navegador, ou melhor, náufrago. Um náufrago moribundo que rema em uma jangada igualmente miserável, contra a corrente, contra o tempo. Um náufrago que, ao fim do rio, vê um penhasco, não sabe se é uma queda grande ou vinte centímetros de desnível. E justamente por não saber, ele se desespera mais ainda, e rema, e luta contra tudo e todos, e chora, mas nada adianta, a correnteza é forte demais, e o esforço dele não vale de nada. A cada metro que a jangada avança, o desespero é maior e os centímetros deixados para trás, que antes pareciam angustiantes e horríveis, agora são como casa para o náufrago que luta com tudo que tem, só na esperança de recuperar alguns dos centímetros. Mas a correnteza é impiedosa, nada nem ninguém escapa ao tempo. 

Dialeticamente, o tempo destrói e reconstrói a si mesmo. Quanto mais o rio avança, mais o futuro se torna angustiante. Em contrapartida, quanto mais passado a jangada deixa para trás, mais o tempo que passou parece um refúgio. Fato é que não há força capaz de parar o rio, não há motor, não há esperança nesse sentido. Assim, encontro Nietzche no meio do rio contra o qual luto. Amorfati (amor ao destino) é o que resta ao náufrago. Não há do que se redimir, não há contra o que lutar. Por mais clichê que pareça, nesse momento há duas escolhas para no náufrago: lutar incansavelmente uma batalha que não se pode vencer e viver de nostalgias pelo tempo que passou, ou se sentar sobre a jangada e apreciar a vista do rio que lhe resta pela frente. 

Em tempos de incertezas tortuosas e correntes constantes, a única certeza que se tem é a jangada em que se navega. De nada adianta trocar o prazer pela guerra, quando a batalha começa perdida. De nada a

“Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas… quero ser, algum dia, apenas alguém que diz sim.”

-Friedrich Nietzche, Gaia Ciência, §276

Frederico Morais Schwingel – 3ª Série EM JPSul – 2020

junho de 2021

Ainda assim…

eu tenho um lápis,
uma caneta
e mil sonhos no papel

tenho um dia feliz
uma amante poeta
e um céu em tom pastel

tenho tudo e mais um pouco
um sonho de louco,
uma vida curta
e esperança na luta

ainda assim,
o aluguel é caro
o amor é raro
e tudo tem fim

Frederico Morais Schwingel – 3ª Série EM JPSul – 2020

março de 2021