Olimpíada de Escrita Criativa

Terra do Sol forte

Em meu aniversário de 58 anos, me encontro em um mundo desolado de pouca alegria, onde terras inférteis e árduas são a regra das planícies ainda habitáveis para os humanos. E deixo claro, humanos não são os únicos peçonhentos por estas bandas, posso sentir o olhar faminto das quimeras em direção ao meu acampamento, estas que surgiram há poucos anos, supostamente de um laboratório que procurava uma forma de manter humanos vivos perto das águas intoxicadas. Assim como as quimeras, nem tudo era assim; há muito tempo, ainda existíamos como sociedade, como seres humanos.

Lembro-me bem de quando mais jovem, do meu último aniversário verdadeiramente feliz: completava 18 anos em 24 de julho de 2681, amigos e família reunidos para a celebração. Infelizmente, esquecer essa data é o meu desejo, porém está gravada nas profundezas de minha mente como o início do fim, a Guerra Depreciativa, sem alvo definido, anunciada nacionalmente pelos mais variados meios e justificada pela falta de recursos para suprir a nação, fato que ocorreu apenas pelo descaso humano pela a natureza durante séculos, mas era tarde demais para qualquer tipo de reversão da situação.

No dia seguinte de meu aniversário, recebi uma carta em meu comunicador. Tal carta me chamava ao campo de batalha. Sem escolha, pobre em treinamento, em poucas semanas estava em meu esquadrão, de prontidão para a morte nas trincheiras. Como para não entrarmos em pânico, recebíamos notícias sobre a guerra apenas pelos nossos comandantes. Mal sabíamos: a maioria dos países de nosso planeta havia aderido ao conflito. Soldados sem nome, éramos atacados e mortos diariamente. Dois anos após o início da sangrenta guerra, a sádica ironia se apresentou: uma batalha pelos recursos restantes tornou-se pura destruição, na tentativa de conquista dos materiais, armamentos acabavam por destruí-los, vencedores sem espólios. Se algum dia houve uma virtude, ela não existia mais. Incerto da data, durante um ataque, ocorreu um grande tremor em nossos pés, uma grande explosão no horizonte, parecia distante, mas a cada segundo se tornava maior. Nos escondemos nos bunkers e, ao sair, vimos absolutamente nada.

Tive de fazer o inimaginável para sobreviver e os restantes não podem ser chamados de humanos. Em meus últimos suspiros deste ar flamejante, apenas desejo que isso não se repita. Envelhecido demais devido ao ambiente, entrego toda minha esperança aos cientistas que ainda buscam uma forma melhor de vida nestas terras inférteis.

César Augusto da Silva | Mário Quintana