OEC 2023 – NARRATIVA FICCIONAL
Tenho
certeza de que todos já ouviram a clássica frase: “o que você quer ser quando
crescer?” Bem, comigo não foi diferente.
Acontece
que, quando você é concedido com o poder – ou maldição – de conseguir
visualizar um fragmento do futuro de uma pessoa no momento em que suas mãos se
encostam, a história muda um pouco. E pior ainda, meu futuro é o único que eu
não consigo ver.
Acho que
tenho essa habilidade desde meus primeiros anos de vida, mas passei a dar
atenção especial a ela quando completei meus 11 anos e a professora Camila, de
matemática, fez essa mesma pergunta à turma. Naquele dia, lembro que minha
amiga Laura, entusiasmada com a ideia de completarmos a faculdade de enfermagem
juntas, entrelaçou minha mão na sua e senti que, por um breve momento, deixei a
realidade em que estávamos e migrei para outra, em que Laura, na verdade, havia
se formado em arquitetura e urbanismo e já havia construído uma nova família.
Os dias
passaram, e a frequência desses episódios aumentou. No começo, achava incrível
a ideia de poder “prever” o que as pessoas iriam exercer como profissão no
futuro e até achava engraçado quando alguém dizia que iria para alguma área
acadêmica específica e, no final das contas, minha visão mostrava um caminho
totalmente distinto. Acredito que esse aspecto da minha habilidade é bem
interessante, pois mostrou-me como as pessoas se permitem fazer novas escolhas
e explorar diferentes caminhos.
Hoje, aos
meus 16 anos, sinto-me atormentada com isso. Consigo visualizar fragmentos da
vida de todos. Vejo Emma, uma menina brilhante da minha turma, se tornando uma
grande advogada com uma carreira repleta de realizações. Também vejo Ricardo
sendo um professor de física muito adorado por seus alunos. Contudo, nunca
consegui ter um mísero fragmento do que eu farei quando crescer.
Muitas vezes
encontro-me pensando:
Será que
finalizarei alguma faculdade?
Será que, na
verdade, terei muito dinheiro e poderei passar a vida inteira viajando ao redor
do mundo?
Será que
viverei um grande amor?
Será
que serei feliz?
Isso tudo é
uma incógnita para mim. E se… eu fizer a escolha errada? Como vou saber para
qual caminho ir?
Percebi que,
na realidade, nunca saberei. A vida é um mistério e cada dia é um novo capítulo
a se viver. Talvez eu erre, talvez não. Acima de tudo, preciso acreditar que o
mundo está disposto a reservar grandes e boas coisas para mim.
Izadora Simionato – JPSul