Tenho afeto até me afetar

O que me afeta é a saudade dos momentos que não voltam mais
é o que posso e não posso fazer por quem amo
e até pelos que não amo, tenho afeto.
Afetividade não é só questão de sentir
é de ser, é de estar, é de ter.

O afeto é o amor na prática sem saber que o estamos praticando
é o fascínio que temos pelo sentimento que as coisas nos trazem
é a evidência de que o caminho vale mais a pena que a chegada
é a ternura latente das relações humanas e desumanas
é a obviedade que nos mostra o que somos e com quem o somos.

O meu afeto é da cor púrpura, o teu pode ser escarlate
não é à toa que seja um substantivo abstrato.
Precisa-se de afeto, ele é a consciência de que ainda se vive
e é preciso reconhecer, é melhor o dar que o receber
mesmo querendo que afeiçoar estivesse na voz reflexiva.

Afetuo-me à vida efêmera e à eterna morte.
Meu afeto é como a noite estrelada, é imenso como o Olimpo.
Idealizo esse sentimento igual a uma romântica
Já que não posso mensurá-lo em forma parnasiana,
pois acredito que ele seja o mais livre dos versos brancos.

A realidade de ganhar para viver e de viver para ganhar é o que me afeta
além do nosso costume (des)natural de não enxergar o outro como pessoa.
O vemos como símbolo da nossa própria miséria, mesmo que inconscientemente.
E é só o afeto, seu Movimento e sua identidade que nos traz humanidade
Até porque, o afeto afeta, só não mais que o desafeto.

Luíse Silva – JPSul