Emaranhada entre as complicações da vida estudantil que leva na Academia de Magia Rousseau, Louise parecia ponderar sobre as tamanhas incertezas que assolam as inúmeras instâncias de nossa trajetória terrena. A xícara de café, firme em sua mão esquerda, enquanto o indicador direito rodeia a circunferência na busca de algo que a garota não é capaz de identificar.
Em frente à escrivaninha, com a janela entreaberta, o reluzente brilho das estrelas penetra no quarto, dando à garota uma luz mínima em meio a escuridão. Em algum momento de sua vida, sua mãe disse a ela que seu quarto descreve sua saúde mental, e Louise, em meio aos destroços do dela após o descontrole mágico telecinético da noite passada, era capaz de reconhecer que, a esse ponto, de nada sabia. A vida deveria ser uma retilínea constante, mas a dela assemelhava-se a curvas disformes. Quem era ela? O que um dia ela foi? Não era capaz de responder, beirar o pensamento tremia seu corpo.
Qual seria a motivação para viver o hoje com as incertezas do amanhã? “Acalme-se, as coisas hão de melhorar”, dizia o eu interior da garota, mas, na mente dela, tais palavras não passavam de falsos presságios. É na adolescência que as inúmeras dúvidas sobre a vida surgem, e cabe a cada um procurar por suas respostas. Entretanto, no momento atual de Louise, não havia forças para procurar pelas suas: a comorbidade de seu irmão piorara, a mãe temia que não fosse mais capaz de pagar o tratamento, e, em meio a tudo isso, a garota se encontrava perdida. Tudo que precisava era de descanso em meio às turvas correntezas.
Os pensamentos invasivos culminados pelas ambiguidades da vida apossaram-se da mente da garota e, na vasta imensidão em que ela se encontrava, sentiu as mãos fraquejarem. A xícara soltou-se de suas mãos, e o encontro dela com o chão quase não passou despercebido: seu olhar, que fitava para baixo, voltou-se para cima. O som de uma chamada vinda do celular repercutiu pelo quarto, e uma estrela nova passou a brilhar. Pela primeira vez, em muito tempo, permitiu a si mesma que as lágrimas percorressem a extensão de seu rosto. E ela ficou ali chorosa junto à imensidão.
Júlia Telesca Bicca | Mário Quintana MQ – M11