Olimpíada de Escrita Criativa

O que você faria se não existisse o medo?

Esses dias, por acaso, eu vi uma foto de uma parede onde as pessoas escreviam o que elas fariam se não existisse o medo. Entre várias mensagens, uma delas era: “Faria o Caminho de Santiago de Compostela.” Aí eu comecei a me lembrar de quando eu decidi fazê-lo e do medo que eu senti.
O que me deixava mais ansiosa quando eu decidi fazer o caminho era como começá-lo. Toda vez que eu pensava nisso, eu ficava muito nervosa e tinha vontade de desistir. Meu pai já o tinha feito, então fui perguntar para ele. “Caminhando.” Foi a resposta. Na hora em que ele me falou isso, eu pensei que ele estava brincando. Mas, no fim das contas, foi isso que eu fiz: caminhei. Só depois eu fui perceber que essa viagem já tinha começado para mim muito antes de colocar a mochila nas costas e sair caminhando (e que ela também não terminou em Santiago).
Faz uns anos que eu sempre compartilho essa experiência com meus alunos do pré-vestibular, porque percebo o quanto eles ficam ansiosos com o futuro e com os desafios que o presente reserva até que eles cheguem nesse tão esperado futuro que é entrar na universidade. Hoje, sete anos depois de ter passado por essa experiência, eu conseguiria pensar mil coisas sobre essa viagem. Porém, o maior ensinamento que eu levei é de que cada um faz o seu caminho, com as suas motivações, mas, independente do lugar a que queremos chegar, o mais importante é aproveitar o percurso, pois é nele que está o presente, aquilo que podemos realmente viver.
O que começou com um frio na barriga, acabou sendo um momento muito meu, em que eu pude aprender sobre minhas limitações físicas e psicológicas. Conheci pessoas incríveis, aprendi o valor de ter um objetivo e, também, que nada acontece por acaso na nossa vida. O caminho começa dentro de cada um, com o que levamos no nosso coração, as nossas tristezas e os nossos sonhos. O importante não é chegar até Santiago, o importante são os encontros e desencontros, as refeições compartilhadas com os outros peregrinos, os vinhos solitários, a dor nas pernas e as bolhas nos pés. E nada disso teria acontecido se o medo não existisse.

Mariana Kapp
Professora de Língua Portuguesa JPSul